Francisco Brennand
Recife – PE | 1927 – 2019
Sem título, 1999
Escultura em cerâmica
135 x 71 cm
A arte de Francisco Brennand permeia o imaginário cultural de Pernambuco. Em frente à Praça Rio Branco, no Marco Zero do Recife, entre o rio e o mar, está o Parque das Esculturas, que abriga algumas de suas obras, entre elas a icônica Torre de Cristal. Ao longo da capital pernambucana, pode-se ver ainda suas intervenções em vários pontos, em seus painéis e murais de grande dimensão (como o “A Batalha dos Guararapes”, no bairro de Santo Antônio) ou no seu inconfundível trabalho em cerâmica. O artista visual deixou um vasto legado, entre eles o monumental espaço de sua oficina, localizada na Várzea, que oferece um mergulho no seu universo singular. Apesar da proeminência de seu trabalho em cerâmica, seu trabalho passeia por várias técnicas, como pintura, desenho, tapeçaria, entre outras.
Sua educação formal nas artes começa na década de 1940 e tem entre seus primeiros mestres Abelardo da Hora, que trabalhou na Oficina São João, da família Brennand, de quem recebe valiosas lições sobre o processo de modelar. Na pintura, é orientado por nomes como Álvaro Amorim e Murillo La Greca e, em 1949, muda-se para Paris, onde tem contato com as obras de Pablo Picasso e Joan Miró, espanhóis cujos trabalhos em cerâmica tiveram forte impacto no pernambucano, entre outros vanguardistas europeus.
Se até a década de 1950 a pintura era a principal expressão de Francisco Brennand, nos anos seguintes a cerâmica vai ganhando cada vez mais espaço e torna-se sua assinatura. No entanto, mesmo quando a cerâmica tornou-se sua principal expressão, entendendo-a para além do perfil utilitário, ele afirmava que continuava se vendo como um pintor.
Ao longo de sua trajetória, o artista manteve diálogo com artistas de diferentes épocas, contribuiu com o Movimento Armorial, com o Programa Nacional de Alfabetização, capitaneado por Paulo Freire, além de dialogar com outras linguagens, como o teatro. Brennand assinou a cenografia do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), nos anos 1950, e volta a assumir a função em 1969, na montagem de A Farsa da Boa Preguiça, do Teatro Popular do Nordeste (PTN), com direção de Hermilo Borba Filho. No cinema, colabora com os figurinos de A Compadecida, também de 1969, dirigido por George Jonas.
Intelectual e estudioso da história da arte, Brennand imprimiu em suas obras referências mitológicas, históricas, religiosas e à natureza que, mescladas à sua fértil imaginação e ao seu interesse por estudar o desejo e o sexo, resultaram em trabalhos impactantes e singulares. Em 2001, à revista Continente ele se definiu como “feudal, supersticioso e pornográfico”. “E digo mais: quando não existem superstições catalogadas, eu invento”, afirmou.