Da ordem dos encantos

“A noção de encantamento traz para nós o princípio da integração entre todos as formas que habitam a biosfera, a integração entre o visível e o invisível (materialidade e espiritualidade) e a conexão e relação responsiva/responsável entre diferentes espaços-tempos (ancestralidade) o encante é fundamento político que confronta as limitações da chamada consciência das mentalidades ocidentalizadas.”

Encantamento – Sobre Política de Vida
Luiz Antonio Simas e Luiz Rufino

‘Da ordem dos encantos’, inclui obras de artistas de diversas gerações que transgridem classificações ao circularem entre universos e tempos. Os artistas aqui apresentados resistem a categorizações e suas obras propõem narrativas encantadas, seja pela ritualização de processos ancestrais, seja pela criação de seres imaginários, na busca por outras narrativas territoriais, em processos meditativos ou pelas cosmologias de mitos formadores. Em território de milagre, o direito ao sonho se torna imprescindível.

No livro ‘Encantamento – sobre política de vida’ os escritores Luiz Antonio Simas e Luiz Rufino fazem referência a necessidade de ‘re-encantar’ o mundo. Nessa busca, as obras mostram uma pesquisa aprofundada na ideia de encantamento como política de vida, reconhecendo as forças visiveis e invisiveis que nos formam enquanto sociedade. A ideia de ascensão espiritual na arte nos conecta com a possibilidade de repensar a fantasia, o enigma e o encante como formas de existência política. Reconhecer o sagrado que habita essas obras é reconhecer uma formação de um Brasil extraordinário, para além de limitações regionalistas ou classificações coloniais.

Temos aqui uma maioria de artistas de distintas gerações e regiões. Pinturas, esculturas, xilogravuras e colagens podem ser vistas como mantras em uma conexão além da linguagem. Muitos desses artistas vêm em suas trajetórias resistindo a classificações. Ora chamados de ‘modernos’ ou ‘contemporâneos’, ‘naifs’ ou ‘populares’, ‘artistas de rua’, a composição que se forma nesse espaço é daqueles que resistiram a esses termos como nomenclaturas externas que não nos cabem. É preciso restituir a autonomia criadora de todo ser artístico, compreender que cada passo é escolha ativa.

Gilvan Samico apresenta em suas gravuras mitos e cosmologias repletos de simbologias. Em muitas das práticas dos artistas aqui apresentados vemos composições que consideram a simetria entre mundos, humano e não-humano, céu e terra, sagrado e profano, máquina e corpo. Começamos a narrativa expositiva com a relação entre as obras de Montez Magno e Rayana Rayo, dois artistas que nunca se encontraram mas compartilham de dimensões cosmológicas em suas pinturas. Ao valorizarmos cosmologias ancestrais, reforçamos a saúde do corpo, da paisagem e da natureza como força e
símbolo do nosso território.

Obras de:
Ariano Suassuna – Bajado – Bozó Bacamarte – Bruno Faria – Francisco Brennand – Gilvan Samico – Mestre Cornélio de Abreu – Miriam Inez da Silva – Montez Magno – Rayana Rayo